Através do Amor

Já dizia um sábio, que através do amor,

Faz deste amargo parecer mais doce, 

Vinagre a estar como se vinho fosse,

Tudo que é cinza ganha outra cor. 


O amor transforma no melhor em ser,

Em ser humano, demasiado humano;

Em que uma gota se retorna oceano

De navegar ou de poesia viver.


Há muito afeto dentro, a alma uniu 

Ao corpo humano, e a consciência vinha

Com a infusão de um beijo, assim ungiu:


Embebede-se deste amor gentil,

Se cede essa sede, se se avinha

Desse outro, cessa a dor, paixão febril.



Rosier

Sob a constelação de aquário ela nasceu,
Essa rosa era branca meu bem, meu amor...
E tinha um jeito manso e elegante só seu

Que te fez flor em flor e nenhum beija-flor.
Assim mais tarde surgem os teus espinhos
Com as feridas que a vida te oferece ao frio,

E frio ao tempo te faz mais carente aos carinhos;
Mais sedentos aos toques! Segredo sombrio,
Com as mãos que te lançam aos seios da morte

E fazem desejar a existência secar-lhe
Entre os dedos, ardor que resiste ao teu corte,
Frágil rosa, que a noite o sereno te orvalhe.

Pois amanhã tornar-se-á a rosa vermelha,
Sangrada foi, e do próprio sangue beberá:
O gosto do teu beijo molhado te espelha!

Como sol, eis a fênix que renascerá
Outra vez, sob os cantos de um Orfeu frecheiro.
Arrancará botão por botão de sua rosa,

Ainda que entregue a mão de um amante floreiro
A polpuda dá néctar, corola cheirosa, 
Mas como todo sonho, desabrochará…

Enquanto a mancha rubra se faz vinho tinto,
O ritual que traduz e se contemplará
Enquanto verso a(o) verso é um quadro que pinto.

Pérola Chai

Noite clara ou dia escuro, o amor é um jogo!
Feliz quem não nasceu neste mundo… Feliz?
Enquanto te procuro, ainda assim eu te amo,
Pois o tempo é um crime, e seria um monólogo
Ao não te contemplar, preferia me calar.
Eis que sendo esta rosa, o mais é nada, amor.
Não me lembro do dia em que nasci, não sei...
Não sei se morrerei antes de conhecê-la.
Queria te convidar para tomar o vinho
Da taça mais sagrada, do nosso segredo,
E esquecer da ignorância que nos cerca ao mundo;
Nossa alquimia é o encanto em duas almas em uma.
Colha os frutos que a vida te oferece anjo,
Lembre-se da jornada que te trouxe aqui:
Encante a sibilante serpente que dança,
Tome dela uma pérola significante,
Vista-se com mais nobre alegria e voe mais alto.
Venha beber o vinho, embriaga-se no amor.

O Elixir

Diante da noite estrelada, encaro um imenso vazio, e eu sou nada
Senhor ninguém, também, ao pensar quem eu sou, uma vida sonhada
Peço algum deus que ouça, não rogo-lhe, apenas que se manifeste.
Não quero sua atenção, nem maldição do crente, faça algo que preste
Logo que este pequeno mundo, ponto azul, um grão de seu tamanho
Não se compara ao título, e atribuições para ser um estranho.

Se em cada noite vejo, a releitura dentro de um tempo tão ínfimo
Testemunho o céu, a lua, o sol, todos os astros e até um véu negríssimo.
Encho-me de arrogância, este mero mortal, e de elucubrações
Reflito sobre tudo que posso naquilo pensar, as paixões
Me arrastam de tal forma. Às vezes vêm fantasmas do passado à agora
Criam as falsas memórias, aos poucos perturbam e não vão embora.

Então, posso indagar qualquer meu sentimento, se há algum sentido
Fecho meus olhos, digo a mim mesmo, de corpo e coração ferido
O que habita dentro, a paz que mais preciso. Uma meditação
De tão profunda perco cada um dos sentidos, ou sem percepção...
Altero em outro estado na verdade, e, tudo ao redor esquecido...
E o tempo não tem espaço? Tanto... A sintaxe do carecido.

A imagem laboriosa desperta os desejos de se transcender
Nascente voluptuosa luz, preenche imediata a mente, do comover;
Inspiração profunda, universo me expira, e assim vice-versa.
Como e em que consiste, ao chamado universo, a letra que versa
O princípio da vida, um símbolo apresenta sua forma venusta,
Iluminando a fronte do sábio, a procura da verdade justa.

A história de milênios, viram o mundo além, a ciência despertara
Contra a ordem da fé de um grande monopólio sacro que pairava
O confronto de vários pensamentos, várias expressões e juízos,
Mas poucos conheceram as pessoas das margens dos pobres paraísos
Também era o retorno da pistis que havia ocultada ao momento
Era vontade e busca, o conatus do tempo, airoso sentimento.

Disto, uma brisa soa balbucios que consola seu querer saber
Mas diante do complexo, aliviado através, quando o vinho beber
Altera a percepção, mas evoca alegria, e assim se satisfaz
A alma do ser vivente. Tão desiderata sensação que traz,
Belíssima emoção que supera a si mesma neste estado ser,
Inebria-se ao amor, e outras causas de essência em nada mais temer.

Por fim, conhecimento, e a vida perdida, aí estava no mundo
Como candelabro ao fogo debelado em um sono profundo.
Mas acorda num tempo, assim, como uma nova que expele sua luz
E derrama energia pra todas direções num aspecto de cruz
A elegância da forma aparenta que há no meio uma áurea flor
No encontro desse olhar, destarte, manifesta-se em um novo amor.

Seco

Quem eu sou? Um nome para ser esquecido,
Senti sua falta, mais ainda estou perdido.
Será que ainda mereço tua consideração,
Não sei... Ainda deixei de lado sua atenção.

Queria voltar no tempo, fazer novamente
Só que ainda melhor, e tudo bom plenamente;
Queria dizer mais ainda o que podia de mim,
Mas ao começar algo, chegamos no fim.

Sou um copo vazio, em busca do preencher
O que na essência do que me faz percorrer
Em cada verso em busca de meu vinho assim,
Uma taça que ama o sabor carmesim.

Procuro em teus olhos o vinho que há dentro,
Seja teu olhar o foco que está no centro
De toda percepção qual venha algo que bebo
A inspiração que procuro, mas não recebo...

Bodas Poéticas

Os cachos do sol não se comparam aos teus
A face da lua fica oculta com tua presença
Diz as nuvens que dispersam em nossa frente
Espantoso é o tempo que se torna tímido
A paisagem perde o foco e o mundo fica mudo
Adoraria estar em teu manto cheio de estrelas
O amor faz isso, mal sabemos dar nome as coisas
Pois o que sentimos dentro de nós é maior do que qualquer extensão.

Cosmogonia

Um dia acreditei que Deus criou a humanidade
Outro dia a Humanidade que criou um deus
Enquanto descobria que a poesia fez ambos
E nesse final descrevi o meu Uni-verso.

Do que me move

Meu coração não precisa de outrem para continuar a bater
Entretanto, tudo parece monótono e no mesmo passo
E diante de ti perco meu compasso, logo embaraço
Um sorriso qualquer, sem saber o que acontece à alma
Transforma o olhar, e as palavras que saem da boca
Tal corpo não está mais sob o controle constante
E a imaginação persiste para o próximo encontro